26 fevereiro 2007

oi,

antes que você tenha um treco achando que eu larguei a história de novo, leia minha explicação.

eu estou com hóspedes em casa, amigos queridíssimos a quem preciso dar atenção. tenho me dedicado totalmente a eles e não tive tempo pra voltar a escrever.
mas eu volto.

cheque outra hora.
sobre o XinB... não vou postar lá por hora. então se você quer saber o fim da história, cheque aqui.

beijo

14 fevereiro 2007

Capítulo LXXXII

- Mas porque não me contar? – Ana perguntou – Eu tinha o direito de saber quem estava por trás disso tudo, afinal fui eu que apanhei!
Oliveira estava sério. Estava pensando no quanto podia contar a Ana.
- Me diga uma coisa... – ele disse finalmente – você vai mesmo embora?
- Vou. Em duas semanas.
Isso facilitava tudo.
- Olha... o que eu vou lhe contar, você não pode contar a Helena...
[A loira não está merecendo minha confiança ultimamente mesmo.]
- Por que não? – perguntou Ana.
- Eu preciso que ela entre com uma denúncia e apresente os documentos como prova contra as pessoas que estão por trás do esquema de corrupção na prefeitura e que, na minha opinião, armaram uma emboscada para você. O testemunho dela é muito importante. Mas ela disse que só fará isso quando você estiver longe daqui e a salvo.
Ana nada disse. [Então era o que eu suspeitava.]
Sua mente voltou no tempo. Lembrou-se das atitudes aparentemente incoerentes de Helena nos últimos meses. Num dia evitava-a, tratando-lhe com frieza; no outro, mostrava o quanto estava apaixonada.
[Isso explicaria o comportamento dela.]
- Estávamos tentando proteger você, Ana Maria. Quanto menos você soubesse melhor para sua segurança.
- E o que mudou? – Ana quis saber – porque está me contando isso agora?
- Você não está mais em perigo.
- Não? Como sabe?
De repente, Ana entendeu.
- Eles são policiais!
Oliveira sorriu. Ela já tinha desconfiado.
- Não exatamente.
- O que quer dizer?
- Helena os contratou – ele respondeu.
Ana ficou em silêncio de novo.
[Não acredito que ela fez isso!]
Sentiu gratidão. Pensou no quanto Helena deveria estar sofrendo por ter que guardar tudo isso para si mesma.
Mas não era bem assim. [Ela não tinha que passar por tudo isso sozinha.]
Ficou zangada.
[Aquela idiota! Como pôde esconder isso de mim?]

*****

Helena sentia-se perdida. Estava confusa. Tinha sido surpreendida ao ver Ana e João juntos.
Não, não era surpresa. Apenas tinha se recusado a ver a verdade.
Estava com raiva. Sentia-se enganada.
[Mas também o que você queria, Helena? Você a rejeitou...
Sim, mas por uma boa razão.
Razão que ela não sabe.
O que ela deveria fazer?
Esperar que você a quisesse de volta?]
Não importa.
[Estou com muita raiva.
Como ela pôde fazer isso?]
Tinha ciúmes de Luís, mas nunca o vira como uma ameaça séria. Ana nunca falara dele com entusiasmo. O ciúme era mesmo porque ele tinha ido pra cama com ela.
Júnior também não era problema. Conseguia ver que Ana o tratava apenas como um amigo.
Mas João...
Isso parecia sério. Ana gostava dele. [Está apaixonada?]
Helena não sabia.
Reviu a cena em sua mente.
Sentiu-se mal. Um nó na garganta.
[Eu vou perdê-la...]
Queria sair correndo.
O telefone tocou.
Era Aline querendo saber se estava tudo bem.
Combinaram de se encontrar mais tarde.

*****

Oliveira analisou o rapaz sentado à sua frente.
Parecia tranqüilo e nem um pouco aborrecido com as perguntas.
- O que exatamente o Sr. está investigando? – Luís perguntou.
- A agressão à Ana Maria e a tentativa de assassinato de Helena Chagas.
Luís ficou curioso.
- E os dois estão relacionados?
- Acredito que sim.
- O que quer saber de mim, investigador?
- O que estava fazendo nas duas ocasiões.
Luís puxou da memória.
- Eu acho que estava com um amigo no dia em que atacaram Ana.
- Ele pode comprovar isso?
- Sim.
- E no dia em que Helena foi atacada?
- Hmmm... nesse dia eu acho que estava no bar.
- No mesmo bar?
- É, o bar onde Ana toca. Estou sempre lá.
Oliveira nada disse.
Luís sorriu e disse:
- Acho que acabei de me tornar um forte suspeito de tentativa de assassinato.
Oliveira não disse nada novamente. Apenas fez uma anotação num bloco de notas.

12 fevereiro 2007

Capítulo LXXXI

À noite houve o esperado show da banda de Ana no teatro do SESC. Por volta das seis da tarde, os músicos estavam no palco testando o som e acertando os últimos detalhes. Testaram microfones e regulagens, passaram umas duas músicas e se aprontaram para o início do show. Estava tudo pronto.

João estava muito empolgado. Mas também estava nervoso. Não conseguia relaxar. Ana, mais experiente, tentou ajudar. Puxou conversa.
- João, relaxa, vai dar tudo certo.
- Tô tentando, Ana – ele disse.
Melissa observava. Então, aproximou-se de João e propôs:
- Deixa eu te fazer uma massagem, João.
- João... – disse Ana – se você não relaxar com a massagem da Mel, nada mais vai te relaxar. Ela é maravilhosa.
E era mesmo. João estava curtindo o toque de Melissa. E a massagem, de fato, ajudou-o a relaxar.
Quando acabou, Melissa deu-lhe um beijo no rosto e disse sorrindo:
- Você vai arrasar!
A cantora acreditava no que dizia. Tinha adorado a idéia de João juntando-se à banda. Para ela, ele ficava incrivelmente charmoso tocando violão. Estava acostumada a trabalhar com outros músicos, muitos até melhores que João. Mas ele tinha algo mais. Era quieto, um pouco tímido – o que Melissa achava incrivelmente atraente – e mostrava, na expressão do rosto, o prazer que sentia em fazer música. A cantora estava mesmo apaixonada por ele. E ao fazer a massagem, tentou disfarçar a sua empolgação por ficar assim tão próxima dele.
Ana teve a leve impressão de que havia algo mais naquela massagem.

*****

Helena chegou ao teatro por volta das sete horas. Ainda havia bastante tempo até o início do show, programado para começar às oito. Queria era poder ver Ana. Mas os músicos estavam atrás do palco, longes do público, concentrando-se para a performance. Encontrou vários amigos, mas não parou para conversar. Queria garantir um lugar próximo do palco.
Nesse momento, deu de cara com Luís. Cumprimentaram-se.
Ele puxou conversa.
- Como você está, Helena?
- Bem. E você?
- Tudo bem. Não nos falamos mais...
- Pois é... [Não que eu tenha sentido falta.]
Luís ficou em silêncio. Encarou-a.
[Chega de bancar o bom moço.]
- Você não vai com a minha cara, não é? – ele perguntou para espanto de Helena.
A loira olhou em volta para ver se alguém havia ouvido a pergunta. Não havia ninguém por perto.
- Posso saber do que é que você está falando? – ela perguntou.
- Não precisa esconder. Dá pra perceber.
- Você está louco...
- E eu sei porque.
- Ah é? – a loira não estava entendendo o porquê do confronto.
- Está apaixonada por ela – ele disse sem sorrir.
- Ela quem? – a loira fingiu surpresa.
- Ana, é claro.
- Você está maluco. [Será que está escrito na minha testa?]
Ele sorriu um sorriso sarcástico, debochado. Nem se deu ao trabalho de desmenti-la.
- Você deveria lutar por ela.
[Essa é boa... recebendo conselhos desse cara.]
- Eu...
Ele ignorou-a:
- Ana é tudo de bom. Ela vale a pena – Encarou a loira e continuou – Por outro lado...
- Por outro lado...??
Aquele sorriso irritante outra vez.
- Acho que ela já te escapou. A fila anda... e a fila dela está bem grande.
- Escuta aqui... – Helena começou.
Mas ele não ficou pra ouvir.
- Outra hora... – disse saindo.
E deixou a loira falando sozinha.

Helena estava irritada. [Mas que diabo! Quem mais vai querer me queimar na fogueira?]
Continuou a olhar para Luís que agora tinha parado para cumprimentar Júnior.
[Não sei se eu te odeio mais por você ter ido pra cama com ela ou pelo que você falou.]

Nesse momento, Duda acenou para ela do outro lado do teatro. Ela e Flávio vieram sentar-se perto dela. Flávio saiu em seguida para cumprimentar uns conhecidos.
- Já volto – disse.

- Não nos falamos muito nessa última semana, Helena – disse Duda – mas quero saber o que anda acontecendo.
- A novidade é que o visto de Ana saiu e ela deve viajar nas próximas semanas. Acho que até já reservou o vôo.
- Ah é? Pra quando?
- Eu não sei exatamente. Não estamos conversando muito, Duda.
- Como você está?
- Não muito bem. Está caindo a ficha que ela vai mesmo embora...
Duda colocou a mão sobre o braço da prima.
Helena olhou para a entrada do teatro e viu Aline. A moça veio em sua direção.
- Qual é a dessa garota, Helena? – Duda perguntou.
- Já te falei, ela é uma amiga.
- Ela grudou em você, Helena. Está a fim dela?
- Claro que não. Ela só está me fazendo companhia. Deixa de ser implicante, Duda.
- Eu não gosto dela – Duda fez uma careta.
- Se comporte – pediu Helena sorrindo.
Com a aproximação de Aline, as duas pararam de falar.
As três cumprimentaram-se e Aline sentou-se ao lado de Helena.

*****

Os músicos tinham trabalhado duro para divulgar o evento. E o resultado estava lá: às oito da noite, o teatro, com espaço para quase seiscentas pessoas, estava quase lotado.
Havia bastante expectativa, mas Melissa e os instrumentistas estavam confiantes. Tinham preparado uma seqüência de quinze canções, com arranjos inéditos.

As luzes do teatro se apagaram. Acenderam-se focos de luzes sobre os músicos no palco. E Melissa começou a cantar, acompanhada apenas pelo violão de Ana.
Helena quase não se segurou. Ana estava linda. A loira estava emocionadíssima. Sentiu que ia explodir de orgulho. A música... Ana com aquele jeito tão descolado e atraente de tocar o violão... as luzes do palco... a voz de Mel... Duda, ao seu lado, deu-lhe um cutucão. Helena controlou-se para não chorar de emoção.
Acabado o primeiro verso, o restante da banda entrou acompanhando a cantora e Ana.

*****

O show foi um sucesso. Embora fosse uma apresentação da banda, ou seja, um evento e repertório bem diferentes do que tocavam no bar, o público participou cantando algumas das músicas. Outras eram menos conhecidas. Mas agradaram bastante. Ao final, foram aplaudidos com entusiasmo.

*****

Acabado o show, os músicos guardaram os equipamentos rapidamente e desceram para a entrada do teatro a fim de receberem os amigos mais próximos e outros que tinham resolvido ficar para cumprimentá-los.

Ana queria ver Helena. Mas quando chegou na entrada do teatro, foi cercada por um grupo de amigos, querendo abraçá-la. Alguém trouxe flores. À distância viu Helena. E ao lado dela, viu Aline.
[Mas que coisa!]
Finalmente as duas conseguiram se cumprimentar. Mas não puderam falar muito.
Helena abraçou-a calorosamente e disse-lhe ao seu ouvido:
- Você é fantástica. Demais. E eu te adoro.
Era tudo o que importava para a morena: saber que Helena tinha gostado.
Outros amigos pediam a atenção de Ana. Helena sabia que aquela era a noite da violinista e de seus fãs. Ficou assistindo toda orgulhosa, conversando com alguns conhecidos.

As conversas se estenderam por mais alguns minutos. Mas o grupo foi diminuindo e grande parte dos amigos foi indo embora. Os músicos conseguiram finalmente deixar o teatro. Tinham planejado uma pizza em algum lugar. Ana iria com João.

No caminho para o carro, Ana e João discutiam detalhes da apresentação. Erros que o público não tinha percebido, outras coisas que tinham dado certo, solos, surpresas e passagens que tinham saído diferente do ensaiado.
João estava vibrando. Queria discutir cada momento do show. Tinha adorado a experiência.
Chegaram no estacionamento.
Ana também estava feliz pelo resultado do trabalho e pela participação do amigo.
- João, estou muito orgulhosa de você – sorriu. – Acho que você já pode vender as lojas e viver de música.
Ele riu. Ficou mais feliz ainda. A opinião de Ana era importante.
- Obrigado por ter me convidado, Ana. Não teria conseguido se não fosse por você. E você estava demais!
Ele abraçou-a e disse:
- Você é demais!
Então tomou-lhe o rosto entre as mãos e a beijou.

Helena, do seu carro, viu a cena toda.

Capítulo LXXX

- Helena – disse Aline ao telefone – você não parece nada bem.
- É... não estou mesmo – a loira respondeu – Acho que só quero ficar sozinha um pouco.
- Não quer conversar? – sugeriu Aline – Sei lá... pôr pra fora o que tá te incomodando...
- Acho que não, Aline.
- Olha... almoça comigo.
- Hmmm.. não sei...
- Vamos a um lugar tranquilo, daí você me conta tudo.
- Acho que...
- Eu passo aí ao meio-dia e meia.
- Mas...
- Não vale recusar. Prometo que você vai se sentir melhor.
- Eu...
- Combinado então – Aline interrompeu – Meio-dia e meia eu tô aí.
Aline desligou.

*****

Aline levou Helena a um restaurante que a loira não conhecia. Era um lugar agradável, aberto há pouco tempo. Comida boa e barata.
- Gostei daqui – disse Helena, enquanto esperavam pelo pedido. – Como você descobriu esse lugar?
Aline sorriu. [Isso eu não posso dizer]
- Um amigo.
Aline então lembrou-se do que tinha entreouvido no bar outro dia entre João e Ana, durante um dos intervalos do trio.
“- Almoça comigo na quinta? A gente tem que ensaiar mesmo. Por volta da uma a gente vai – ele sugeriu.
- João, ando comendo muito fora de casa – Ana respondeu – E preciso guardar grana pra viagem.
- Eu pago, Ana.
- Eu não me sinto bem com você pagando sempre.
- Olha, vamos a um restaurante novo que abriu lá em Moema.
- Barato?
- Barato e bom.
- Como é o nome?
- “Quatro estações”.
- Hmmm... vou pensar.
Nem Ana, nem João perceberam que Aline os ouvia.”

Aline não tinha certeza se João e Ana de fato apareceriam. Mas mesmo assim decidiu levar a loira até lá. Seria lucro se eles aparecessem.
Não precisou esperar muito.
João e Ana entraram no restaurante logo em seguida.
E Ana ficou muito surpresa – e aborrecida – ao ver Aline e Helena almoçando juntas.

11 fevereiro 2007

Capítulo LXXIX

- Meu Deus, João! – Ana não acreditava – Alguém tentou matar Helena?
- Aparentemente sim – ele respondeu. – Jogaram o carro pra cima dela.
- Quando ela saía do bar?
- Sim. Aquela tal de Aline viu o carro vindo e parece que empurrou ela pra calçada.
Ana estava séria.
- E aquela idiota não me disse nada! – disse finalmente – Não acredito que escondeu isso de mim!
- Isso confirma o que eu disse antes: ela está tentando te proteger.
- Você chegou a perguntar pro Oliveira se ele tem certeza da conexão entre o meu ataque e isso que aconteceu com Helena?
- Olha, Ana, a conversa não foi muito agradável. Eu fiquei nervoso.
- Porque ficou nervoso, João? Você não fez nada de errado...
- Ele ficou me acusando. Achou que eu tinha tentado matar Helena.
- Que idéia estapafúrdia! Porque ele pensaria isso?
- Eu sei lá! Aquele cara intimida a gente. E ele não fala muito quando não quer.
Ana não disse nada. Sua mente estava a mil, tentando entender o que estava acontecendo. Então disse:
- João, tem que estar relacionado.
- O que?
- Os dois ataques. Olha só... vamos imaginar que Helena tenha sacado logo de cara que os caras que me atacaram o fizeram por causa dos documentos. Então, o que é que ela faz?
- Conhecendo Helena, eu acho que ela faria de tudo pra te proteger... – ele disse.
- Exatamente! E pra fazer isso, ela esconderia a história toda de mim.
- É... é bem o estilo dela, bancar a super mulher e tentar resolver tudo sozinha.
Ana balançou a cabeça negativamente.
- Que idiota! E agora estão tentando matá-la. O que é que a gente faz agora, João?
- A gente vai ter que falar com ela, Ana. Vamos pôr Helena na parede.
- Hmmm... é... mas antes eu acho que preciso ter uma conversa com o Oliveira.
João fez uma careta.
- Que sujeito irritante aquele.
Ana estava pensativa.
- Que foi, Ana?
- Estou preocupada com Helena, João. E se tentarem de novo?

*****

- Nossa violonista vai mesmo embora – disse Artur.
Helena não disse nada. Até agora, não tinha realmente parado para pensar em Ana indo embora. Apesar de ter feito de tudo para que a morena partisse, não tinha visualizado sua vida sem ela. De repente tudo se tornou real. Real demais.
Helena perdeu o apetite. Não queria mais comer. Não queria fazer mais nada.
- Quando saiu o visto? – Hugo perguntou.
- Hoje – Leonora respondeu. Observava a reação de Helena – Não vai comer, Helena?
- Tô sem fome, mãe.
- Onde está Ana, Leonora? – perguntou Artur – Quero dar um abraço bem gostoso naquela menina. Estou muito feliz por ela.
- Ela teve ensaio hoje. Amanhã é o show do grupo.
- Vai ser muito dez – Hugo parecia empolgado. – Chamei todo mundo.
- É... vai estar lotado – Leonora disse. Olhou para Helena.
Mas a loira já não estava presente na conversa.
Estava pensando em como seria sua vida dali pra frente sem a morena por perto.

10 fevereiro 2007

Capítulo LXXVIII

João estava visivelmente nervoso. A conversa de Oliveira não estava lhe agradando em nada. O policial tinha ligado logo no início da manhã para saber se João poderia encontrá-lo durante meia hora. João ficou curioso. Deu um jeito de encaixá-lo no fim da manhã.
- Eu também sou suspeito, é isso? – perguntou sem conseguir esconder o nervosismo.
Oliveira estava calmo.
- Veja bem, Sr. João, estou apenas lhe perguntando o que estava fazendo na noite do dia 14, o dia em que Helena sofreu um atentado.
- Eu nem me lembro! – disse João exasperado. – Foi o que? Uma quinta? – perguntou checando um calendário sobre a mesa.
- Sim, era quinta-feira.
- Eu não sei... acho que eu fui para o bar.
- O bar onde Ana trabalha?
- Sim... onde mais?
- E o que fez?
- Sei lá... fiquei lá conversando com uns amigos.
- A que horas deixou o bar?
- Não me lembro. Meia noite, uma hora... não sei mesmo.
- Mas lembra-se de ter saído antes de Helena?
- Não. Foi depois. Eu a vi saindo com uma garota.
- Há alguém que possa confirmar sua história?
- Sim, as pessoas que estavam comigo. Amigos.
- Poderia me passar alguns telefones mais tarde?
- Claro...
- Mas... você poderia ter saído um pouquinho antes e tentado alguma coisa...
- Isso é ridículo! Eu não fiz nada disso!
- Não é tão ridículo assim. Veja bem, você poderia ter saído e ninguém teria notado. As pessoas saem e voltam o tempo todo. Vão ao banheiro, vão pegar outra bebida...
- Mas e o carro? Não checou o carro? Não é o meu!
- Sim, mas poderia ter alugado ou emprestado um.
- Já que acha que fui eu – João estava irritado – porque não me prende?
- Sr. João... – Oliveira manteve a calma – estou apenas checando possibilidades.
João estava bufando. Decidiu ficar quieto ou iria se complicar.
Oliveira continuou:
- Tenho uma outra questão para tratar com o senhor.
O investigador estava estudando cuidadosamente a reação de João.
- Sua família... – começou o policial – é originalmente de São Paulo?
- Sim, porque?
- Toda ela?
- A família da minha mãe é daqui mesmo de São Paulo.
- E a do seu pai?
- A do meu pai é de Santo Inácio.
Oliveira sorriu. [Bingo!]

Capítulo LXXVII

Ana não tinha controle sobre seu corpo ou sobre suas reações. Com o beijo, Helena tinha tomado conta dos seus sentidos: os olhos verdes escuros de desejo, o cheiro discreto do perfume que conhecia tão bem, o toque macio dos lábios, a mão ágil que rapidamente agarrou-lhe a cintura, a sensação da língua quente de Helena na sua boca...
- Você é minha – Helena parecia dizer com aquele beijo.
E Ana respondia sem palavras:
- Sim, sou sua, Helena.

Então, sem dizer palavra, e tão abruptamente quanto entrou, Helena interrompeu o beijo e saiu.

Ana ficou lá. Sozinha. Tentando controlar a respiração. Imediatamente sentindo falta do contato do corpo da loira.
Levou alguns minutos para se recompor.
Sentindo-se mais dona de si, não conseguiu evitar o sentimento de frustração que seguiu o beijo. [Eu jamais vou conseguir me livrar da influência dela.]
Sentiu tristeza.
[Isso não tem futuro.]
Respirou aliviada ao lembrar que seus dias próxima de Helena estavam contados.
Mas sentiu um vazio enorme também ao constatar isso.

*****

Helena deixou o banheiro e foi recompondo-se no caminho ao salão principal do restaurante.
Porque tinha feito isso?
Não tinha certeza. Ver Ana e João juntos tinha lhe cegado. Puro ciúme. E reagiu sem pensar. Algo lhe disse que tinha que reclamar o que era seu. Ana era sua. Quando viu a morena levantar-se para ir ao banheiro, não pensou duas vezes. Nem sabia direito o que faria.

Para entrar de volta no salão do restaurante, tinha que passar por um corredor. E no outro lado, esperando à entrada do salão principal avistou Júnior. E ele parecia irritado.
Helena não entendeu. E não estava interessada saber. Quis ignorá-lo, mas ele estava travando a sua passagem.
- Júnior, me dá licença – disse.
- Então não é Aline – ele disse fitando-a desafiadoramente. – É Ana, não é?
Helena ficou surpresa.
- Isso não é da sua conta, Júnior – disse.
- Ana é da minha conta, Helena.
Helena achou melhor não alongar a conversa.
- Com licença, Júnior – disse forçando a passagem e deixando-o para trás.
Ele ficou olhando-a ir. Estava visivelmente irritado.
Um observador atento poderia detectar uma ponta de ódio no olhar dele sobre a loira.

*****

Depois de servido o prato principal, os convidados começaram a movimentar-se pelo salão, cumprimentando os noivos e conversando com conhecidos em outras mesas. Leonora aproximou-se de João e Ana. Abraçou o rapaz.
- Que bom te ver, João – disse.
- Leonora! – ele respondeu feliz em vê-la.
- Como você está, meu querido? – ela quis saber.
Colocaram a conversa em dia e Ana resolveu deixá-los a sós.
- Quando vai aparecer num dos nossos churrascos? – Leonora perguntou.
- Hmmm... – ele tentou ser evasivo – você sabe, Leonora... Eu e Helena terminamos há pouco e...
- Besteira! – ela interrompeu – Não vou me privar da sua companhia.
- Além disso – disse ela fixando os olhos em Ana, que conversava com uma moça a poucos metros deles – me parece que o fim do noivado está superado para você.
Leonora disse isso com um sorriso. E não havia repreensão no seu tom de voz. Estava sinceramente interessada em tê-lo de volta visitando a casa. Queria também discretamente informá-lo que estava ciente do interesse dele em Ana.
E João sabia disso. Mas mesmo assim ficou sem jeito.
Leonora percebeu que o rapaz tinha ficado desconcertado e tratou de deixá-lo mais à vontade:
- João, você sabe que Ana é minha outra filha, não sabe?
Ele não esperava um confronto tão direto por parte de Leonora tão cedo. Não sabia o que dizer.
- Não quero que se sinta pressionado – disse ela com um sorriso. – Apenas não gosto de ver ninguém se machucando.
- Eu não vou...
- Eu sei, meu querido – ela interrompeu novamente. – Eu sei...
Abraçou-o e disse antes de retirar-se:
- Fiquei tão feliz em vê-lo de novo, João.
[E estou me referindo a você, João. Não quero que “você” se machuque, meu querido.]

*****

- Vocês estão juntos? – Júnior perguntou.
Ana balançou a cabeça.
- Não, Júnior – disse. – Somos apenas amigos.
Júnior abriu um sorriso.
- Então não é ele? – insistiu.
Ana sorriu.
- Júnior...
- Tudo bem... – disse ele com um sorriso. É que é difícil competir com um adversário invisível. Se pelo menos eu soubesse quem é...
- Júnior...
- Ok, ok... vamos falar de outra coisa.
[Eu sei que não é ele, Ana.]

*****

Acabado o jantar, João foi levar Ana em casa. Estacionou o carro em frente à casa dos Chagas.
Ana estava em silêncio.
- Você não está muito bem hoje, não é? – ele perguntou.
- Me desculpe, João. Acho que estou um pouco ansiosa com as coisas que tenho por decidir.
- Você não tirava os olhos de Helena hoje – ele disse.
Ana gelou.
- Está preocupada com o que ela pensa ao nos ver juntos? – ele perguntou.
- Hmmm... – Ana respirou aliviada – é... mais ou menos.
- Ana... – ele olhou bem nos olhos dela – foi ela quem terminou tudo. Não existe mais nada entre nós.
Ana ficou em silêncio. Não queria magoá-lo dizendo que não correspondia ao sentimento dele. E não queria alimentar alguma coisa.
- João... eu estou um pouco confusa. Podemos conversar sobre isso outra hora?
- Claro – ele disse sem conseguir esconder o desapontamento – nos vemos amanhã.
- Amanhã?
- Sim, esqueceu que o show é quinta feira? Temos ensaio todos os dias a partir de amanhã.
- Puxa, nem me lembrei – disse Ana – Então nos vemos amanhã.
Deu-lhe um beijo rápido na bochecha e saiu do carro.

09 fevereiro 2007

Capítulo LXXVI

Na noite seguinte, houve o jantar de noivado de Duda e Flávio. Foi uma recepção pequena para alguns amigos mais próximos e a família. O casal celebrou o noivado num restaurante de comida grega, fechado para a ocasião.
Não foi um evento muito formal e o número não muito grande de convidados contribuiu para que todos ficassem à vontade.

Quando Ana chegou acompanhada de João, Helena já estava lá. O fato de a morena estar acompanhada pelo ex-noivo da loira não causou estranheza; todos sabiam que João e Ana eram amigos bem próximos. Mas Helena começou a achar que os dois estavam gastando muito tempo juntos. E tal proximidade começou a incomodá-la. Lembrou-se do comentário de Aline quando tinha visto os dois juntos no bar outro dia: “Ele está a fim dela”. Não gostou.

O jantar foi servido. João e Ana sentaram-se um ao lado do outro. Helena evitou sentar-se perto dos dois, mas deu um jeito de mantê-los sob sua vista. Durante o jantar tentou relaxar e curtir a conversa com os parentes e alguns amigos na sua mesa. No entanto, não conseguia tirar os olhos dos dois.
Observou, incomodada, que João estava realmente encantado com Ana. O olhar apaixonado era inconfundível.
[Aline estava certa.]
Ele era todo cuidados com a morena. Ouvia-lhe a conversa com atenção, riam juntos das pequenas coisas, trocavam olhares.

Ana, por sua vez, estava tentando ser cuidadosa; não queria provocá-lo. Estava apenas tentando agir como a amiga. Gostava demais da companhia de João. Ele era inteligente, engraçado, extremamente gentil e cuidadoso com ela. E ela sabia que se sentia atraída por ele.
[Eu até que poderia me apaixonar por ele, se não estivesse tão perdidamente apaixonada por ela.]

Ela... Helena. Ana olhou para a mesa onde ela estava. A loira estava absolutamente irresistível naquela noite. Como sempre.
Ana suspirou. Estava fazendo um esforço sobre-humano para não encarar a loira. E estava conseguindo. [Deus sabe como!]
Mas seus olhos teimavam em buscar o olhar da loira e algumas vezes não conseguiu evitar de cruzar o com aqueles olhos verdes. Cada vez que isso acontecia, seu coração parecia querer saltar do peito. E nas poucas vezes que Helena lhe sorriu de volta – um sorriso discreto, contido, mas que dizia tanto – Ana sentiu que o chão lhe fugia aos seus pés.
[Eu adoro essa mulher. E nunca ninguém vai me fazer sentir desse jeito.]

Voltou a concentrar-se no que lhe dizia João. Sorriu. Gostava tanto dele. Mas estava difícil prestar atenção na conversa.
Olhou discretamente para Helena, que agora parecia engajada numa conversa séria com uma de suas primas.
[Linda!]
João continuou a conversar. Fez-lhe uma pergunta que ela não ouviu.
Ana desculpou-se. Ele repetiu a pergunta e ela respondeu.
Ele percebeu que ela estava distraída.
- Acho que está quente aqui – ela disse – preciso de um pouco de ar.
Pediu licença para ir ao banheiro. Levantou-se e saiu.

Ana apoiou as duas mãos na pia. Abaixou a cabeça e ficou ali de olhos fechados tentando recuperar o controle dos seus sentidos. Não conseguia relaxar.

A porta do banheiro se abriu. [É ela!]
Virou-se. Era mesmo Helena.

Helena não queria conversar. Chegou perto de Ana e gentilmente colocou a palma da mão sobre o rosto dela. Desceu a mão pela nuca, por baixo dos cabelos. A morena fechou os olhos. Sentia-se dominada pela presença de Helena.
A loira fitava-a atentamente. Passou o polegar sobre os lábios de Ana.
Então inclinou-se e a beijou.

Capítulo LXXV

Aline correu os olhos pelo bar à procura de Helena.
[Ela não veio. Droga!]
Olhou em volta. Sem a jornalista, o bar não tinha graça. Na verdade, sem ela, não achava graça em quase nada ultimamente. A obsessão por Helena estava mudando completamente sua rotina. Por exemplo, passara a evitar o namorado a todo custo.

Resolveu esperar. [Quem sabe ela não aparece?]
Tinham se falado durante o dia. Tinham corrido juntas naquela manhã e Aline estava conseguindo dar um jeito de falar com a loira duas ou três vezes por dia. A idéia de mostrar preocupação com o bem-estar da loira estava dando certo. Isto lhe abria caminho para falar com a loira a qualquer hora.
“- Estou ligando pra saber se você está bem. Estou preocupada com você.” Era assim que começava a conversa. Logo, perguntava do dia da loira e pedia se podiam almoçar juntas ou fazer alguma outra coisa. Helena não dizia não.

Aline pediu uma bebida e sentou-se. Do lugar de onde estava num dos cantos do bar, tinha uma boa visão do palco; mais precisamente, uma boa visão da violonista morena que acompanhava a cantora.
[O que é que ela viu nela?]
Ana estava concentrada no que fazia. Não viu Aline.
Aline começou a analisar a morena. Era simpática. Tinha um sorriso e cabelos bonitos. Quando se curvava sobre o violão, a franja caía sobre o rosto, dando um charme extra. E tocava muito bem. Também tinha um corpo muito bonito. Aline conseguia perceber como Ana poderia ser considerada atraente por algumas pessoas. Mas não era assim de parar o trânsito. [Não sei mesmo o que Helena viu nela.]

De repente percebeu que não gostava mesmo de Ana. Não queria admitir a razão de tal antipatia. [Nossos santos não batem mesmo.] Não queria pensar em como ficava irritada cada vez que Helena mencionava o quanto Ana era especial e o quanto a amava. É claro que não mostrava tal irritação quando a loira vinha com tal conversa. Era simpática e ouvia com atenção. Afinal, tinha que conquistar Helena primeiro. Depois faria as coisas do seu jeito.

Estava entretida analisando a morena quando Júnior aproximou-se.
- Posso? – perguntou ele.
- Claro. [Outro que baba pela violeira.]

- Cadê a loira, Aline? – ele perguntou ao sentar-se.
- Também queria saber – Aline respondeu.
Uma idéia lhe ocorreu. A conversa com Júnior poderia ser imensamente proveitosa. Ele nem sabia ainda, mas tinham interesses comuns. Talvez fosse hora de contar isso ao rapaz. Unidos, poderiam conseguir o que queriam.
- Há quanto tempo estão juntas? – ele quis saber.
Aline riu.
- De onde tirou a idéia que nós estamos juntas, Júnior?
- Que isso, Aline! É só olhar pra vocês duas pra perceber que tem alguma coisa rolando.
- Hmmm... [Isso é bom de saber. Muito bom mesmo. Se você pensou isso, uma certa violonista também pode ter pensado.]
- Infelizmente, não está rolando nada – ela disse. – Não ainda – completou.
- Ah é? E porque não? Posso saber?
Aline deu um gole na cerveja e sorriu.
- Sua prima está apaixonada por outra pessoa.
- Hmmm... e quem é? Alguém que eu conheça?
Aline aproximou-se dele. Queria ver de perto a reação de Júnior ao que iria dizer.
- Conhece sim – disse. E olhou para o palco, apontando com a cabeça na direção de Ana.
Júnior ficou sem entender.
- Alguém da banda? – ele perguntou sorrindo.
- Sim – respondeu Aline. – Ana.
Júnior parou de sorrir imediatamente.

*****

Ele ficou em silêncio por alguns segundos. Estava em choque. Aline também não disse nada.
Então ele perguntou, meio que falando consigo mesmo:
- Mas e os emails no celular?
- Do que você está falando? – Aline não estava entendendo.
- Ah... como eu fui burro... “A” não era de Aline... – Estava frustrado – Como é que eu não vi isso antes?
- Do que você está falando? – Aline perguntou de novo.
Ele contou das mensagens no celular de Helena de alguém chamado “A”.
- E o que é que te levou a pensar que era eu? Eu nem a conhecia na época.
Ele ficou pensativo.
- Isso quer dizer que isso já vem rolando há tempo. E o pior de tudo é que Ana a ama também.
Encarou Aline:
- Porque não estão juntas?
[Acho que te contar isso agora não vai ser útil pra mim, Júnior. Vou guardar pra mim essa informação.]
- Não faço idéia – respondeu.

- Agora que você viu que estamos interessados na mesma coisa, nós podemos trabalhar juntos... – Aline propôs.
- Do que você está falando? – Júnior ainda estava atordoado com o que acabara de descobrir – Você também está a fim de Ana?
Aline balançou a cabeça.
- Claro que não. [Que sujeito devagar!] Estou me referindo ao fato de que tanto eu quanto você não queremos que estas duas fiquem juntas.
Júnior esboçou um sorriso. Tinha subestimado a garota.
- Estou ouvindo. Pode falar.
Então Aline lhe contou o que estava pensando.

Capítulo LXXIV

- Você quer dizer que estes caras estão te seguindo o tempo todo? – João não acreditava no que ouvia.
- Eu desconfio que sim. O carro está estacionado em frente à sua loja nesse momento – Ana respondeu.
- Ah, essa eu tenho que ver – João saiu e foi verificar.
- Disfarça – pediu Ana.

João voltou dentro de alguns minutos. Sentou-se na poltrona macia do seu escritório e ficou pensativo.
- Ana... esses caras não me parecem mal-intencionados. Eles poderiam te atacar a qualquer momento se quisessem.
- É verdade. Também pensei nisso.
- Eles parecem estar de tocaia, te cuidando – disse João. – Será que são da polícia?
- Não... acho que não. Três caras da polícia me cuidando o tempo todo? Porque isso?
- Mas então quem são esses caras?
- Não faço idéia, João.
- Olha, Ana, como você não quer pedir o dossiê pra Helena, a gente precisa pelo menos falar com esse tal de Oliveira. Se eles estão conversando, a gente precisa pelo menos saber se tem mesmo a ver os caras que te atacaram estão atrás do dossiê.
- Eu tenho quase certeza de que estão, João.
- Eu também.
Ana ficou pensativa. Então disse:
- Está certo. Eu vou procurar o investigador.

*****

- Você vai no jantar de noivado da Duda? – João perguntou.
- Sim.
- Topa ir comigo, Ana?
Ana pensou um pouco.
- Claro que sim, João – disse com um sorriso – Seria um prazer.
João sorriu aliviado. Ficou felicíssimo com a resposta.
Ana também tinha gostado do convite.

*****

Juarez não sabia direito que dizer.
- Eu... eu não podia ficar vigiando a moça 24 horas por dia, Oliveira.
Oliveira respirou fundo.
- Eu sei, Juarez. Mas poderia ter me avisado que não estaria disponível. Eu teria arrumado mais alguém pra te ajudar.
- Me desculpe, Oliveira – o rapaz estava desconcertado.
Oliveira não quis fazê-lo sentir-se pior do que já estava se sentindo.
- Olha, ainda bem que a moça não se machucou. É claro que se você estivesse lá, teríamos pelo menos uma pista do carro.
- Ninguém anotou a placa?
- Não. A moça que estava com ela, como é mesmo o nome? Hmmm... Aline... ela acha que a placa estava coberta.
Juarez ficou em silêncio.
- Olha... – disse Oliveira – eu vou colocar um outro homem trabalhando com você. Não quero que vocês deixem Helena sozinha nem um segundo, entendido?
O rapaz fez que sim com a cabeça.

08 fevereiro 2007

Capítulo LXXIII

Helena sentia-se igualmente triste. Sentia uma falta danada de Ana e estava totalmente impotente. Tudo o que podia fazer era esperar que Ana fosse embora. Em meio a tanta tristeza e carência, encontrou em Aline uma amiga em quem achava que podia confiar. Sentiu-se aliviada depois de ter lhe contado sua história com Ana.

Aline, apaixonada pela loira, agarrou-se a cada oportunidade de estar com ela. Era uma ouvinte atenta e mostrava-se prestativa. Tinham muito em comum e – com seu senso de humor – sempre conseguia arrancar risadas da loira. Helena gostava da companhia. Principalmente porque podia falar sobre seu grande amor com ela. Evitava pensar que estava alimentando a paixão de Aline e que não lhe correspondia os sentimentos. [Ela sabe que é Ana quem eu amo. Não estou enganando ninguém.]
No fundo, sabia que devia afastar-se da garota. Era egoísmo seu mantê-la ao seu lado para sentir-se melhor. Mas estava se acostumando à companhia e, de certo modo, ficando dependente de Aline.

Aline, por sua vez, adorava a companhia de Helena. Estava cada vez mais fascinada pela loira. Também evitava pensar que quase tudo o que saía da boca de Helena dizia respeito a uma certa morena que tocava violão. Sentia-se incomodada, mas tentava se convencer de que Helena podia mudar de idéia.

Mas o que realmente as aproximou foi um incidente que aconteceu na noite do dia em que as duas saíram para correr pela primeira vez.
As duas encontraram-se no bar à noite. Não tinham combinado nada, mas Aline desconfiava que a loira iria ao bar para ver Ana tocar e decidiu ir também. Acabaram se encontrando e, como Helena estava sozinha numa das mesas, convidou Aline para juntar-se a ela.
Quando decidiram ir embora, Aline resolveu acompanhá-la.

Saíam do bar. Entretidas com a conversa, as duas dirigiam-se ao estacionamento, onde tinham deixado seus carros. Aline vinha mais atrás. Helena atravessou a rua primeiro, conversando animadamente com Aline. Riam de alguma história engraçada.

Foi Aline quem primeiro viu o carro vindo a toda velocidade na direção da loira. Num gesto rápido e puramente instintivo, correu para cima da loira e empurrou-a para o outro lado da rua a salvo do carro. As duas caíram na calçada à frente, assustadas e com o coração aos pulos.
- Helena! – disse Aline olhando na direção do carro que agora desaparecia no final da rua – Aquele filho da puta tentou te matar!

*****

Naquela noite, apesar dos protestos da loira, Aline acompanhou-a até seu apartamento. Não queria deixá-la só.
Aline subiu ao apartamento da loira e depois de uma longa conversa e mais uma cerveja, Helena finalmente convenceu-a a ir embora.
Mas no dia seguinte, Aline ligou logo cedo para certificar-se de que tudo estava bem. Estava genuinamente preocupada com a loira.
Mas também percebeu que esta era sua chance de passar a ficar mais próxima do objeto de sua paixão. Tinha que aproveitar.
E foi exatamente o que fez.

Capítulo LXXII

Júnior estava se divertindo muito. Tinha levado Ana a um restaurante. A morena quis ir embora logo depois do jantar, mas Júnior conseguiu convencê-la a ir dançar. Estavam num barzinho e Ana, embora se esforçasse por se divertir, parecia um pouco distante. Ele resolveu não perguntar o que a preocupava. Sua estratégia para conquistar a morena era fazê-la curtir sua companhia. Queria ser agradável, fazê-la rir. Isso implicava em não falar de coisas desagradáveis.
- É um programa de antropologia – explicou Ana – e eu estou tentada a me concentrar em alguma área do Brasil. Ainda não decidi.
Ela parou de falar. Sorriu e disse:
- E este assunto deve ser a coisa mais chata do mundo pra você.
Desta vez foi ele quem sorriu:
- Tudo o que te diz respeito me interessa, Ana.
Ana ficou sem jeito com o comentário.
- Júnior... o que você quer de mim?
- Não está na cara? – ele riu pra descontrair – Quer uma carta de intenções?
Ana riu.
- Olha – ela disse – eu... eu não estou exatamente... solteira.
Ele ficou em silêncio. Já esperava por isso. Mas não planejava desistir.
- Não tenho chance nenhuma? – perguntou.
- Júnior, minha vida tá meio enrolada agora. [Não posso explicar exatamente como.] E além disso eu estou de mudança...
[Ótimo! Ela não disse não.]
- Tudo bem – não quis insistir no assunto. Olhou-a nos olhos. Quando Ana olhou de volta, ele sentiu seu coração acelerar. E assustou-se com a reação.
- Quer dançar comigo, Ana? – perguntou baixinho. [Estou me apaixonando por essa mulher.]
Ela sorriu.
- Claro.

*****

Nos dias que se seguiram, Ana decidiu que iria descobrir o que exatamente Helena estava escondendo. Sabia que a loira estava mentindo sobre a história do dossiê e os encontros com Oliveira. Mas queria saber até onde ia a mentira de Helena. Depois de vê-la correndo com Aline, ficou curiosa para saber se havia algo entre as duas. Desconfiava que sim. [Isto explicaria a atitude dela comigo.]
Tinha sido ingênua demais. Confiara em Helena e a loira traíra sua confiança. Decidiu segui-la a fim de descobrir a verdade. Mas primeiro, precisava saber se ela mesma não estava sendo seguida.

Não foi difícil perceber que de fato estava sendo seguida. Descobriu que havia um carro que ficava sempre estacionado a alguns metros da casa dos Chagas; sempre com dois ou mais ocupantes. Eles mudavam sempre de lugar e eram muito discretos, mas Ana acabou descobrindo que eles estavam ali por sua causa. Primeiro, fez algumas experiências – saiu a pé algumas vezes e saiu com o carro algumas outras vezes só para testar sua teoria. Estava certa. Os homens sempre a seguiam. Engraçado, não sentiu medo. Pelo contrário, sua descoberta deixou-a com mais coragem. Afinal, eles não sabiam que ela sabia que a estavam seguindo.

Ana, sabendo que a seguiriam, começou a descobrir maneiras de despistá-los. E logo viu que não era tão difícil assim escapar deles. Eles acabavam perdendo-a de vista. Esperava que isso acontecesse e ia atrás de Helena. Era importante que não a seguissem porque queria preservar a loira.

Acabou descobrindo que Aline e a loira estavam realmente passando bastante tempo juntas. Primeiro, descobriu que a corrida matinal era uma rotina entre as duas. Fez questão de ir ao apartamento da loira pela manhã durante uma semana e descobriu que Aline ia ao apartamento da loira e as duas saíam para correr juntas.
Ana tentou controlar o ciúme. Quando as viu juntas pela segunda vez, teve um acesso de raiva e quis ir até lá tirar satisfações. Mas precisava descobrir o que a loira estava tramando e ter um ataque de ciúmes, confrontando-a agora não ajudaria. Respirou fundo. Esfriou a cabeça e continuou a vigiar os passos da loira de longe, sem que a vissem.

Descobriu também que as duas estavam se encontrando no bar com freqüência. Não chegavam juntas. Mas Ana sempre as via conversando uma com a outra.

Ficou triste com a atitude da loira. Helena estava mentindo pra ela nisso também. [Está tendo um caso com aquela garota. Tenho certeza.]